Opinião

Capitão Nabuco

Por Sérgio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Filho de um desembargador e membro do Supremo Tribunal de Justiça, o Capitão Nabuco, como era conhecido, conviveu com a melhor sociedade de seu tempo e o seu nome e o seu pulso, bem como os dos heróis de Homero, são aclamados pela voz pública, envolvidos em uma atmosfera de legenda. E esse homem, em cuja ossada inseriam-se músculos de ferro, era de estatura mediana, champrudo e tinha os braços e os antebraços fornecidos por musculatura de Ciclope, burilando-lhe o torso um modelado de jogador de disco da estatuária grega.

Cadete no exército, Nabuco seguiu para Nápoles como integrante da comitiva que foi buscar sua majestade, a imperatriz Tereza Cristina. Ali, ao que se sabe, esteve para casar-se com uma princesa, mas a sorte foi-lhe adversa. Na volta ao Rio de Janeiro, o jovem cadete atirou-se ao tumulto e aos desregramentos, acolitado de jovens destemidos e valentes. Calmo como sempre, entronizado na sua força descomunal, não consta que Nabuco fosse uma única vez agressor, nem provocador de lutas e desordens. Arrojado aos excessos às imoderações báquicas, alguns episódios de sua vida coloriam-se de reflexos característicos, o que não impedia que o rochedo ficasse firme e de pé ao embate das vagas e aos rumores das tempestades. Em meio de seus sonhos, de suas fantasias tresloucadas, o seu gênio deixava-se arrastar na torrente dos caprichos que o tornavam quase delinquente. Daí a sua retirada do meio militar.

Respeitado pelo povo, pois é do povo render vero culto ao que é forte, Nabuco, sem ostentação ou exterioridades, exercia oportunamente a ação de seu bíceps de gigante, fazendo estremecer de assombro os espectadores que o admiravam. Partir uma mesa com um soco, suspender no ar uma mesa de bilhar, arrancar uma sacada de ferro e varejá-la à rua, eram fatos presenciados por muitos. Acontece que na majestade de seu vigor e no domínio de suas energias, o capitão Nabuco, como era chamado, sentia-se desfalecer. E, dizia, em desalento: "Olhem, meus amigos, sou tão desgraçado que só posso apanhar; porque se eu bater, mato".

Descuidado de seu futuro, afogando-se no torvelinho da vida, seus dias escoavam-se em noites veladas nos salões dos hotéis, nas casas de bilhar, nos atropelos de toda a casta, como que se antecipando à morte. Orgulhoso do respeito das turbas que o festejavam por suas proezas, Nabuco exibia-se nas praças públicas. Faleceu em 1864, deixando um filho que lhe herdara a mesma força muscular. Que destino teve, isso se ignora. A memória do pai, porém, está viva como outrora na lembrança do povo. Isso, neste País, já é alguma coisa!

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